OPINIÃO: Juízes galãs de cinema
Certa vez, o editor Sérgio de Souza, o Serjão da revista Caros Amigos, pediu que eu fizesse uma grande entrevista com Odilon de Oliveira, o todo poderoso juiz que combatia com mão de ferro o crime organizado na fronteira do Brasil com o Paraguai. À época, disse-lhe: isso, nem pensar.
– Não daria uma capa?
Respondi com outra pergunta: lembra o que você me falou sobre o José Trajano e o Juca Kfouri?
Serjão tinha enorme capacidade de compreender uma situação. Comigo, não mais tocou nessa pauta. À dupla Trajano/Kfouri, voltarei mais adiante.
Jornalistas e cineastas precisam agir com extrema cautela diante de juízes e promotores que estão na moda – ou melhor, com juízes e promotores arroz de festa da mídia. Odilon não passava disso – igual vemos agora que Moro e Dallagnol também não. Da magistratura, Odilon de Oliveira já se aposentou. Virou, então, candidato a governador pelo PDT de Mato Grosso do Sul. Contrariou o seu partido ao apoiar Bolsonaro, em vez de Fernando Haddad, a presidente da República. Tal apoio não engrandeceria o currículo de um juiz que, num passado recente, apresentava-se à sociedade como inimigo togado dos traficantes de drogas e de armas. Ponta Porã, cidade onde Odilon mais atuou, virou terra sem lei. Odilon não acabou com a bandidagem; tampouco com as milícias que se instalaram lá. E mais: para assumir o controle do tráfico internacional de drogas, o PCC transformou a região numa praça de guerra. Tornou-se angustiante morar na fronteira.
Porém, o juiz já havia sido endeusado pelos meios de comunicação. Somente faltava a sua ascensão ser exibida no cinema. Pela Globo Filmes, essa ideia vingou. Daí que a sua trajetória se confundiu com a do roteiro do filme “Em nome da lei”. O elenco é bom – o filme, não convence.
Se o cineasta Sérgio Rezende tivesse esperado um pouco mais, conduziria à telona outros assuntos palpitantes a respeito da carreira de Odilon – alguns deles apareceram nas eleições de 2018. Rezende, talvez, chegasse à conclusão que Odilon não merecia ser o mocinho de um filme. A pressa não contracena com a arte. Quem estampou o drama de Zuzu Angel não poderia dar essa derrapada artística. Zuzu Angel foi morta pelo regime militar. Na campanha eleitoral do ano passado, o ex-juiz Odilon declarou que, no Brasil, não houve ditadura militar e, sim, governo militar. Será que ele não viu a história de Zuzu Angel no cinema?
Odilon perdeu a eleição: teve 47,65% dos votos dos sul-mato-grossenses; o eleito, Reinaldo Azambuja (PSDB), abocanhou o restante: 52,35% dos votos. Que enrascada! Não sei o que levou Chico Diaz a aceitar interpretar aquele papel. O talentoso e intenso Diaz seria o contrabandista que mandava na região. O global Mateus Solano foi o ator que deu vida a Odilon de Oliveira. Solano tem porte atlético, presença a impor respeito. Quem já o viu fazendo exercício na avenida Afonso Pena, em Campo Grande, escoltado por policiais fortemente armados, sabe que Odilon é o oposto de Mateus. Politicamente, Mateus Solano seria mais esperto também: ao abrir a boca, certamente o ator não falaria tamanha besteira sobre aquele período sombrio da história brasileira. Para apimentar o drama cinematográfico, eis que surge uma procuradora submissa. No filme “Em nome da lei”, as apurações passam pelo juiz que participa de tudo: desde orientar nas investigações, até esconder, a pretexto de proteção à integridade física, uma testemunha.
No mundo real, é possível essa procuradora ter existido? Lógico que é possível. O procurador de carne e osso, Deltan Dallagnol, está aí para chancelar a ficção de Sérgio Rezende. No filme, Odilon de Oliveira é o paladino, o homem de notável bravura – a integrante do Ministério Público Federal, a sua obediente subordinada. Realmente, a ‘doutora’ não passa de uma coadjuvante em “Em nome da lei”.
Com as revelações jornalísticas do site The Intercept Brasil, Deltan Delleganol se encaixaria nesse script do cineasta Rezende, só que obedecendo a ordens de outro magistrado: o então juiz Sérgio Moro. O jornalista Vladimir Neto, filho da colunista de Economia da Rede Globo, Mirian Leitão, escreveu livro sobre a operação Lava Jato. Um cineasta apressado, o José Padilha americanizado, transformou o livro de Neto em série, para o canal Netflix. Livro e série televisiva bajularam aquele povo de Curitiba.
Há que se ressaltar: títulos dos trabalhos deles são interessantes – o de Neto, “Lava Jato – o juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o país”, e, de Padilha, “Mecanismo”. Todavia, inverossímeis. Título simplesinho no livro de Neto ficaria melhor: “Os Bastidores da Operação Farsa Rápido”. Título, aliás, a mim sugerido pelo historiador Ahmad Schabib Hany. Com um livraço desses a orientá-lo, Padilha teria elementos para destrinchar o funcionamento orgânico dessa espetaculosa operação policial-judicial.
Com Moro sendo desmascarado quase todos os dias, José Padilha virou o beicinho para o ex-juiz. Não pediu, no entanto, para o canal Netflix tirar o seu “Mecanismo” do ar. Vladimir Neto precisava trilhar vereda idêntica e solicitar à editora para recolher e queimar os exemplares de seu trabalho sobre Moro. Envergonhados, se é que estão, é o mínimo de gesto de grandeza que Neto e Padilha poderiam demonstrar ao país.
Não falei que voltaria a José Trajano e a Juca Kfouri?
Por telefone, não me recordo em que ano essa curiosidade tomou conta de mim, perguntei a Serjão sobre o jornalismo esportivo praticado no eixo Rio-São Paulo.
– Por aqui, confiáveis só são esses dois nomes que eu te falei.
– Lógico, e as equipes que Trajano e Kfouri montarem, acrescentou.
Serjão dominava o que falava.
Em mais de uma edição, Juca Kfouri foi capa de Caros Amigos.
O bafafá envolvendo Neymar Jr (acusação de agressão e violência sexual a uma jovem modelo) respingou em Mauro Naves, o profissional da Rede Globo que cobre a Seleção Brasileira, Seleção Brasileira que mete 7 a 0 na seleção hondurenha e leva de 7 a 1 do selecionado alemão. O veterano Mauro Naves teria tentado abafar o caso. Que eu saiba, Naves nunca trabalhou com nenhum dos dois jota-jota, José ou Juca.
Acalme-se aí, saudoso Serjão: qualquer hora dessas, eu emplaco uma entrevista de capa com o Trajano.
Luiz Taques foi chefe de reportagem da TV Morena e repórter do jornal Folha de Londrina. É autor dos volumes de contos “O casamento vai acabar com o poeta” (Editora Casa Amarela, 2002); “Bebinho, Mamadinho e o velório de Bafo de Alho” (Editora Letradágua, 2008) e do romance “Um Rio, Uma Guerra” (Editora Kan, 2016).
*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não correspondem, necessariamente, ao ponto de vista do MS em Dia.
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